A ruiva do necrotério
ESSA HISTORIA FOI CONTADA POR UM AMIGO MEU, QUE TRABALHOU NO NECROTERIO DE UM ANTIGO HOSPITAL DO INTERIOR DE SÃO PAULO.
Eu era um jovem de 22 anos, solteiro, que trabalhava num necrotério de um hospital do interior de São Paulo. Sou tímido e gostava do necrotério porque tinha dificuldades de me relacionar com pessoas e preferias a tranquilidade da companhia dos mortos.
Era década de 90 e eu fui para o hospital, onde trabalho como zelador do necrotério. Cheguei e liguei minha tv, aguardando a chegada de alguma funerária para buscar um dos corpos que estavam na geladeira. Logo chegou uma viatura do hospital e deixou um corpo, que guardamos na geladeira, estava num saco preto e eu nem abri, somente coloquei o numero sobre o plástico escuro e voltei a minha cadeira pra assistir tv.
Naquela noite esfriou e veio um temporal forte, era mais de 23hs e os trovões estremeciam o chão. A chuva ficou mais forte, quando escutei bater na porta do necrotério. Era uma jovem mulher, linda, olhos azuis, cabelos vermelhos, ela era muito bonita e pediu pra usar o telefone para char um taxi. O necrotério era uma casa isolada nas dependências do hospital e tinha uma ruazinha ao lado que as pessoas costumavam passar pra chegar ao pronto socorro. Essa moça estava com os cabelos e o vestido molhados. Eu expliquei a ela que o telefone sempre ficava mudo quando chovia e era melhor ela se secar no banheiro enquanto eu fazia um café. Ela agradeceu e foi ao banheiro e eu fui fazer o café, estava um pouco tímido, afinal uma mulher linda aqui nesse deserto, nessa chuva, essas coisas não acontecem sempre na vida de um solteiro. Eu caprichei no café e aproveitei pra me pentear e passar um desodorante, enquanto a moça estava no banheiro. Logo ela saiu do banheiro e veio me acompanhar no café e começamos a conversar. O que me admirava era uma jovem e linda mulher, ruiva e de sorriso branco, estava muito a vontade num lugar onde as pessoas geralmente tem medo, receios e jamais iriam bater na porta pra se abrigar da chuva, mesmo numa tempestade, não imaginava possível isso. Ficamos conversando e ela bem a vontade, num vestido úmido, sem blusa e com um decote provocante, um perfume de rosas e um olhar pra mim muito sensual, parecia que no decorrer da conversa e com a chuva mais fraca ela não queria mais ir embora daqui. Já entrava na madrugada e nossa conversa ficou mais intima, ela começou a perguntar se eu era casado ou tinha namorada. Eu comecei a falar com receio e logo fui me abrindo e dizendo que era muito tímido pra conseguir uma namorada e estava solitário. Ela se aproximou de mim e numa voz macia falou perto do meu ouvido direito:
Ho! Coitadinho....Você é muito bonzinho, doce e educado. Acho que vai encontrar a pessoa certa ainda.
Eu senti um arrepio percorrer meu corpo e um calor subiu...Afinal não é sempre que uma mulher bonita fala em meu ouvido...Aliás nunca aconteceu! Ela continuou a falar e disse coisas boas a meu respeito, nessa hora eu fui me soltando e peguei mais duas xicara de café pra nós, quando me virei e olhei pra ela tive um susto, não esperava, mas ela estava nua na minha frente e a luz da lua após a chuva iluminava seu corpo pela janela da sala. Eu fiquei parado, travado, pois nem podia imaginar e quando ela me chamou para dentro da sala de descanso, as duas xicaras caíram no chão e eu me dei conta de que era minha oportunidade de uma noite interessante. Fiquei animado e me dei conta que uma mulher linda, nua e gratuita na minha frente seria algo difícil de acontecer de novo. Eu a segui e fomos para a sala de descanso, onde havia uma cama e essa foi a melhor noite de sexo da minha vida. Era quase 5 horas da manhã e a ruiva se vestiu, me deu um beijo e foi embora.
Eu cochilei um pouco e logo tocou a campainha do necrotério, era a funerária local, que vinha buscar um corpo de uma desconhecida, não reclamada e que estava a 3 dias na geladeira, eu nem sabia do caso, pois só recebia, entregava e registrava os corpos que chegavam sempre em saco preto vindo do pronto socorro do nosso hospital. Eu comprimente o agente funerário, lhe ofereci café, nem pensei em contar sobre os detalhes daquela madrugada e o acompanhei até a geladeira para retirar o corpo. Ele me pediu pra ajudar a retirar do saco, pois não podia levar sem colocar a camisola do hospital, pois era assim que o hospital entregava para sepultar corpos não reclamados após 72horas. Abri a geladeira, puxei a gaveta e seguramos nas laterais do saco e colocamos numa maca, enquanto eu fui buscar uma camisola, o agente funerário foi abrindo o saco preto e expondo o cadáver de uma mulher. Quando voltei com a camisola fiquei perplexo ao ver o rosto do cadáver de uma mulher, jovem de cabelos vermelhos. Eu não sabia como reagir, pois contar a verdade seria loucura e podia parecer muito estranho, mas o agente percebeu meu espanto e disse:
Você tá branco, rapaz!
Você tá bem?
Eu cheguei a deixar cair a camisola no chão e fiquei em choque por uns instantes. O agente me chacoalhou pelo braço e eu olhei pra ele e ainda com cuidado disse:
Nossa! Conheço essa mulher...Ela veio aqui ontem.
O agente me olhou com estranheza e me contou que era o corpo de uma mulher desconhecida, que ninguém sabia de onde vinha ou se havia parentes pra contatar. Era um tanto improvável eu a conhecer, porque ela foi encontrada morta na beira de um rio na divisa da cidade. Ela foi achada com uma corda no pescoço na beira do lago e a necropsia foi feita no IML da nossa cidade, mas ninguém a conhecia, nem houve quem a tivesse visto antes da sua morte, provavelmente a 4 dias.
Eu não consegui entender mais nada, pois sei que era ela. Me recompus, vestimos o corpo e colocamos no caixão, falei pro agente esquecer o assunto, pois devia ter sido outra pessoa. Eu fui pra minha sala, peguei minha mochila e logo depois que a funerária levou o corpo, fui embora pra casa, sem entender nada e sem poder comentar o caso, pois quem iria entender que eu passei uma noite romântica com uma ruiva que havia sido assassinada a uns 5 dias e era totalmente desconhecida. No plantão seguinte eu jurei pra mim mesmo que jamais abriria a porta anoite pra qualquer pessoa, mesmo com chuva.
Acreditem, foi algo que nunca entendi e nunca saberei se foi sonho ou realidade, pois era tudo muito fora da realidade que eu estava acostumado, mas quando eu lembrava parecia real, pois sentia até o gosto dos lábios daquela mulher. O batom vermelho forte que deixava sua boca tão carnuda e linda me vinha a mente com tantos detalhes, o corpo lindo, branco, escultural que minhas mãos tocaram com suavidade ainda estavam no meu tato, os cabelos vermelhos que acariciei era tão real, macios e tudo isso não era sonho, não podia ser, mas também realidade seria impossível, pois eu vi o cadáver de uma jovem mulher ruiva que parecia muito,era ela com certeza, mas não tinha mais a beleza que eu deslumbrei naquela noite. Nunca vou entender, mas também nunca esquecerei aquela noite estranha. No ano seguinte sai da cidade e do emprego e fui trabalhar em outra cidade bem distante, num escritório, durante o dia e nunca mais passei ou tive interesse em trabalhar em necrotério de hospital.
SRH
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-Confúcio
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